Sunday, May 7, 2017

As virtudes da arte como hobby

RR, Série Compositores, 1997, Paço Imperial, RJ
Sempre fui um fervoroso defensor do sistema de arte profissional. Neste blog o estimado leitor poderá ler como defendo curadores, galeristas, artistas "executivos", colecionadores, instituições, circuito oficial, até as comissões de 50% eu defendo. Algumas rodas de artistas românticos acham que sou conservador. Ja me chamaram até de capitalista, logo eu... que buscava subverter o sistema por dentro. Quem me conhece de perto sabe que não sou conservador. Capitalista ainda estou tentando ser, para ver se faturo algum.

Eu estudei arte na FAAP onde a pegada do curso é bem mercadológica e logo depois fui abençoado e trabalhei 4 anos no departamento de curadoria do MAM, onde conheci as entranhas institucionalizantes do mercado em tenra idade. Depois fiz curadorias independentes e trabalhei em galerias. Assim minha visão sobre a arte sempre foi muito seca, pragmática, dura, sem conversinha. Eu era daqueles que poderia dizer "isto não é arte", ou pior "você não é artista, é um artesão". Só não falava isso para não magoar o interlocutor.

Eu não sou um artista que vive da minha arte. Ainda. Se fosse provavelmente este blog não existiria. O lema deste blog é "faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço". Não tenho um volume de produção para fazer frente ao competitivo mercado de arte, no momento. Nelson Leirner ensinou na FAAP "para entrar no mercado o artista tem que ter produção". Com poucas obras, tenho feito poucas exposições. Com poucas exposições eu poderia ser duro comigo mesmo e sentenciar "não sou um artista". Mas sempre vou me considerar um artista atuante, sempre vou manter minha pose, e ainda acredito que no futuro posso me organizar melhor para impulsionar minha carreira. Como? Fazendo arte como hobby!

"Oi? Como assim? Arte como hobby? Ficou louco? Nenhum colecionador vai se interessar em investir, nenhum curador vai chamar um hobbista despretencioso. Quem pinta por hobby não é considerado" diria eu mesmo até há pouco tempo atrás.

Veja bem, é melhor se organizar para fazer arte por hobby do que enfrentar o desânimo de uma carreira precária. Em ambos os casos você vai precisar de um outro emprego do mesmo jeito. Fazendo como hobby é possível desapegar da "agenda de artista" e pintar por pintar. O meu problema pessoal é que sempre pintei para exposições com data certa. Raramente fui acumulando obras sem um compromisso de entregar para uma vernissage. Meu pragmatismo artístico era total. Então quando o ritmo de exposições diminuiu a produção quase parou. Ultimamente tenho feito uma exposição por ano, ou seja, pinto uma vez por ano. Isto não é legal.

O meu ganha-pão paralelo à arte sempre tirou meu tempo de dedicação à minha carreira artística. Quando entrei no MAM, logo depois de formado, pensava comigo "uau, estou no MAM", sempre que batia o cartão do ponto, dia após dia, sentia um orgulho imenso daquilo. Aprendia muito. O público tinha a nítida impressão que eu era relevante lá dentro. A parte chata era que rapidamente comecei a ver artistas mais jovens do que eu fazendo bem mais exposições, alguns em galerias, e outros mais jovens até expondo lá dentro no MAM. Lidei com isso pensando "bem... isto é natural, eles estão pintando horrores, e eu estou montando exposições no museu, eles fazem pose lá fora, eu faço aqui dentro, okay, vamos em frente".

Várias instituições depois, acabei ficando bem mais atuante nos bastidores do que no palco. É possível prosperar e ser muito feliz nos bastidores da arte: os curadores, os arquitetos, os grandes produtores, os marchands, são os verdadeiros cartolas, eles tem a chave do sistema, gozam de bastante prestígio e conseguem até exprimir criatividade e autoria. Nos bastidores eu estava no olho do furação, mesmo que minha arte apenas orbitasse o sistema a uma boa distância, eu era o gerente da parada. Só que nunca fui um árduo seguidor dessas carreiras técnicas, sempre procurei me ver mais como artista. A condição de artista marginal é até reconfortante, é uma categoria consagrada de artistas.

Hoje penso em evoluir, não trabalhar mais nos bastidores da cultura, continuarei sendo artista mas vou arrumar um ganha-pão longe da arte, um negócio mais conservador (sou bom nisso, simulações conservadoras), é muito improvável enriquecer na cultura. Nesta idade estou precisando enriquecer. Levar uma carreira pura de artista, é complicado demais, para mim, é solitário e demanda uma iniciativa absurda, tenho contas se acumulando. Arte como hobby é a minha dica do momento, para voltar a sorrir como artista, para uma produção maior do que a de hoje, para dar tempo ao tempo, e focar no meu novo empreendimento e quem sabe voltar a colecionar. Para ser sincero não acho interessante viver da arte, outros trabalhos ajudam a arejar a cabeça do artista. Não me faltam ambições artísticas, meu objetivo não é uma carreira passageira, é entrar para a história da arte. E como dizia o general Sun Tzu "a vitória ideal é obtida sem a batalha". E a consultoria de arte? Como vai ficar? Se alguém quiser pode me procurar, eu que não vou sair por aí vendendo este serviço. Menos pretensão e mais diversão na arte.

Sucesso!! Ricardo Ramalho

No comments:

Post a Comment