Wednesday, July 30, 2014

O que é curadoria?

No mundo da arte contemporânea o termo curador se refere a um profissional com conhecimentos museológicos e artísticos, capacitado a cuidar de acervos e organizar exposições. Cuidar de acervos envolve responsabilidades de catalogação, arquivo, pesquisa, conservação, registros, incorporação, divulgação, controle de entradas e saídas. Organizar exposições envolve toda a produção da mesma, mais pesquisa, comunicação com diversas coleções, documentação das obras em trânsito, concepção da mostra, contratação de montagem, transporte, divulgação, mediação com o público, edição de catálogo, recepção, manutenção da sala expositiva, desmontagem e devolução.

A figura do curador encontra rejeição em algumas rodas românticas, apesar de reconhecida sua importância do meio profissional. Há quem veja nos curadores uma função apequenada, seriam os "escolhedores", os agentes da restrição e do conservadorismo na arte, são acusados de beneficiarem sempre os mesmos, de apostarem somente em nomes ja conhecidos e seguros, de estarem vinculados às galerias, e desprezarem artistas emergentes, não seriam muito afeitos ao "garimpo", ou uma pesquisa de campo mais detida para novos nomes.

Por outro lado o cargo já está bem conhecido no Brasil, talvez conhecido até demais, existe uma banalização do uso do termo de uns 20 anos para cá: hoje existem curadores dos mais variados seguimentos, curadoria de moda, curadoria de conteúdos, curadoria de textos, e por aí vai.

Existem curadores de todo tipo, assim como artistas. Alguns são mais simpáticos do que outros, alguns mais capacitados e completos, outros fazem o mínimo, ou nem isso. A curadoria é um trabalho criativo e administrativo importante, na medida em que coloca alguém como responsável pela exposição ou por um acervo. Quando uma exposição não tem curador a responsabilidade pelos mal feitos acaba se diluindo, e o mérito da exposição também se dilui. Um curador agrega valor a exposição, ele lidera e coordena a realização, ajuda a responder por todos os trabalhos expostos. Neste ponto vejo sua grande contribuição: numa exposição sem curador, se o público perguntar ao artista A algo sobre o artista B, talvez o A não se sinta capacitado para responder. Perguntando ao curador ele certamente terá uma resposta que defenda cada um dos artistas da exposição. Não existe nenhum benefício em desvalorizar a importância dos curadores, pelo contrário, é valioso saber trabalhar eles, ajudam a compor a cena artística e atuam no meio de campo institucional.

Ricardo Ramalho

Tuesday, July 29, 2014

O artista que não vende nada e acha que vale muito

Isto acontece com alguma frequência, certos artistas cobram caro pelos seus trabalhos, sem que seus valores tenham respaldo do mercado, ou seja, seus preços não são consagrados por um volume de vendas significativo. Como defendem seus preços então? Alegando "maturidade artística", "currículo", "anos de janela", ou então "obra trabalhosa".

Nenhum destes argumentos são válidos para justificar um preço. Maturidade é o mínimo que se espera de um trabalho para despertar interesse. Currículo não garante cotação, Nelson Leirner é um exemplo disto, o arrojo de um artista pode gerar interesse curatorial, mas não repercutir da mesma forma no mercado. Anos de janela é até engraçado, o artista pensa que por trabalhar há 30 anos merece ser valorizado... se ele carrega os mesmos vícios e limitações a vida inteira certamente não colherá os frutos que pretende. Obra trabalhosa é outro equívoco comum, como se uma obra simples pudesse ser mais barata, e a trabalhosa mais cara, sendo que a apreciação de uma peça reside na sua genialidade e não na sua complexidade.

O que justifica um preço são as vendas e a demanda. Se uma obra vende muito, se todos querem ter uma em casa, se ele vende tudo o que faz, então ele vai gradualmente subindo seu preço, ao longo de muitos anos. Com cuidado, porque uma subida prematura pode interromper um ciclo virtuoso de vendas e distribuição. 

Há quem diga que uma pintura cara vende mais, porque indicaria que a obra é relevante. Eu não compro este argumento... a menos que o artista ja seja muito consagrado pelo mercado, e seus preços estejam bem fundamentados. Forçar um valor pode ser desastroso, pega mal depois diminuir, os colecionadores querem valorização e não desvalorização.

Os artistas não devem se apegar aos seus trabalhos, devem facilitar a venda, esvaziar seus ateliers, e produzir sempre novas obras. É triste acumular trabalhos encalhados no atelier, ao invés de faturarem 20 mil vendendo 10 pinturas, preferem micar com uma produção achando que vale 10 mil cada, e acabam por não vender nenhuma... e ainda se revoltam com o sistema de arte. Vivemos numa economia de mercado, não existe valorização porque o artista é gente fina. O artista que quiser prosperar, e fazer seus colecionadores felizes com a valorização, precisa ter seus preços bem fundamentados ao longo do tempo.

Ricardo Ramalho